A cena cultural urbana ganha novas cores com o surgimento da companhia teatral Viva Cena, que tem conquistado multidões ao apostar em espetáculos ao ar livre. A iniciativa inovadora oferece apresentações gratuitas em parques e praças públicas, levando dramaturgia de qualidade a quem, muitas vezes, não frequenta teatros convencionais. Observa-se, assim, uma democratização do acesso à cultura, superando barreiras financeiras e geográficas recorrentes no segmento.

O projeto surgiu da inquietação de jovens artistas que buscaram maneiras de aproximar o teatro do cotidiano das pessoas. “Queríamos sair das quatro paredes e transformar qualquer espaço em palco”, afirmou a diretora Raquel Santos. As peças selecionadas mesclam textos clássicos e contemporâneos, adaptados para o ambiente externo, o que confere dinamismo e espontaneidade às montagens.

Desde os primeiros espetáculos, a recepção do público surpreendeu os organizadores. Em uma manhã recente, mais de 400 pessoas se reuniram no Parque Central para assistir à montagem de "O Auto da Compadecida". Muitas das famílias presentes relataram que era a primeira vez que assistiam a uma peça teatral. A acessibilidade dos eventos garantiu a presença de pessoas das mais diversas idades e perfis sociais.

Outro diferencial da companhia está na interação constante com a plateia, rompendo a barreira tradicional entre atores e espectadores. Além de apresentar as obras, o elenco frequentemente envolve o público em cenas improvisadas, promovendo uma experiência lúdica e participativa. Crianças e idosos sentem-se especialmente atraídos por esse formato envolvente, tornando o teatro mais próximo de todos.

Segundo estatísticas divulgadas pela produtora do grupo, cerca de 65% da audiência nunca havia assistido a um espetáculo teatral presencialmente. Esse dado ilustra o impacto do projeto na formação de novos públicos e na promoção de inclusão cultural. “Acreditamos que a cultura tem papel transformador na sociedade. Nosso objetivo é alcançar quem sempre esteve à margem”, ressalta Raquel Santos.

Os eventos contam com o apoio voluntário de profissionais de iluminação e som, além de artistas visuais que auxiliam na cenografia sustentável, utilizando materiais recicláveis. Essa preocupação ambiental reflete o compromisso da Viva Cena não apenas com a arte, mas também com hábitos mais responsáveis em relação ao meio ambiente. O cuidado com a acessibilidade também se destaca, com tradução em Libras nas apresentações.

Além dos espetáculos, a companhia oferece oficinas gratuitas de expressão corporal e teatro para crianças e adolescentes, aproveitando o ambiente dos parques para atividades lúdicas e educativas. Segundo Felipe Alves, coordenador pedagógico, “a intenção é despertar o interesse pela arte desde cedo e criar espaços de convivência e aprendizagem fora do ambiente escolar”.

As redes sociais têm sido aliadas importantes na divulgação dos eventos. Por meio de postagens constantes, vídeos e transmissões ao vivo, a Viva Cena mantém o público informado sobre a agenda e bastidores das montagens. O engajamento digital contribui para formar uma comunidade cada vez mais numerosa, onde espectadores trocam impressões e depoimentos sobre as experiências vividas.

Especialistas em cultura destacam a relevância de iniciativas como a da Viva Cena em um contexto de redução de investimentos públicos no setor. “Propostas que descentralizam o acesso à cultura são fundamentais para ampliar o repertório cultural do brasileiro”, analisa a pesquisadora Carla Magalhães. Ela enfatiza ainda o potencial educativo e transformador do teatro ao ar livre, especialmente em espaços públicos.

No horizonte da companhia, estão planos para expandir as apresentações a diferentes cidades e incluir novas linguagens, como dança e música. A experiência positiva vivida até agora reforça a convicção de que o teatro pertence a todos, e que as praças e parques podem – e devem – ser ocupados por manifestações culturais que celebrem a diversidade e promovam a cidadania através da arte.